segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Entrevista Guto Barros
A história do guitarrista Guto Barros se confunde com a história do Rock Brasil surgido nos anos 80.
Integrante da banda “Lobão e os Ronaldos”, Guto Barros também participou da Blitz e escreveu seu nome na história do Brock.
80`s: Guto antes de você fazer sucesso com Os Ronaldos, você participou do embrião incial da Blitz né, conte pra gente um pouco dessa fase, como você chegou até a Blitz?
Guto: Bem... nós (eu, o Zé Luis, o Lobão e o Junior Homrich, que era o baixista) estávamos fazendo parte da banda que acompanhava a Marina Lima, e na ocasião nós estávamos fazendo uma temporada no Teatro Ipanema. Neste mesmo período, o Asdrubal Trouxe o Trombone, que era o grupo de teatro do qual o Evandro Mesquita participava estava apresentando um trabalho deles chamado “Aquela coisa toda” no mesmo Teatro no horário que antecedia a nossa apresentação. Então em um desses dias o Evandro resolveu ficar e assistir ao show da gente. Depois, através de contato com o Wally Salomão e também o Lobão, rolou um convite do Evandro e do Ricardo Barreto para nos juntarmos para levar um som. Daí eles nos apresentaram o repertório e nós fizemos os arranjos e começamos a atacar. Foi uma experiência muito legal.
80`s: Li no livro do Lobão, que vocês são amigos desde a infância, como foi essa convivência desde o colégio até chegar no sucesso com Os Ronaldos”?
Guto: Nos conhecemos na 7ª série do Colégio Rio de Janeiro e descobrimos que curtíamos bastante bandas como Grand Funk, Black Sabbath, Led Zeppelin, Santana entre outras. Depois de tocar com o Lobão na banda da Marina e na Blitz e depois de idas e vindas minhas para os EUA, acabei voltando em 83 quando então o Lobão já tinha lançado o seu LP “Cena de Cinema”. Então o Zé Luis que estava tocando com ele me encontrou na praia e me chamou para participar da banda ao vivo.
Guto nos primórdios da Blitz.
80`s: Eu enxergo a geração Rock Brasil 80`s com uma formação intelectual bem legal, isso se reflete muito nas letras das bandas, mas o som se comparado com as bandas de fora, sempre soou meio de brinquedo. Ne época você enxergava isso, pelo fato de ter feito Berklee? Hoje em dia parece que ocorre o inverso né, todo mundo toca muito bem, mas a temática é bem ruim. Como você analisa isso?
Guto: Acredito que talvez se pense isso pelo fato dessas bandas dos anos 80 terem sido influenciadas por uma onda recente da época, lá fora, que era nada mais nada menos do que o New Wave. E também a questão do som parecer de brinquedo se deva ao fato de que os estúdios das gravadoras aqui no Brasil não estivessem preparados para interpretar essa nova estética que se lhes apresentava. Ou seja, os técnicos de gravação estavam acostumados a gravar somente MPB e Samba, não tendo muita noção da engenharia sonora que o Rock em geral demandava. Inclusive aqui, nas salas de “corte final”, existiam equalizadores gráficos excelentes que nem eram explorados pelos técnicos. Ter feito Berklee foi importante sob vários aspectos, mas não acho que esse fato, necessariamente, tenha contribuído decisivamente para a minha opinião a respeito dos resultados técnicos dos primeiros trabalhos dessas bandas dos anos 80, mas foi importante para eu me desenvolver como músico. As bandas que fizeram mais sucesso na mídia nos anos 80, inegavelmente absorveram uma grande influencia das bandas New Wave lá de fora e, esse conceito não exige necessariamente virtuosismo por parte de quem executa. Porém, a temática poética era sim bastante interessante, mas você veja que os grandes letristas do período tinham cabeças que não estavam necessariamente ligadas em virtuosismo com relação à execução dos instrumentos. O Júlio Barroso, o Cazuza e o Renato Russo, que foram alguns dos ícones dessa geração, não necessariamente, tocavam virtuosamente qualquer instrumento, simplesmente o faziam, quando faziam, desempenhando dentro do contexto do conceito das composições. O mais legal é que aquele que eu acho que era o mais cabeça, que era o Bernardo Vilhena, nem era músico. Hoje, temos muitos estilos variados e cada um na sua praia, procura realizar o que lhe dá prazer. Quanto a questão da falta de conteúdo poético e filosófico, talvez seja porque aquela rapaziada dos anos 80 tinha uma avalanche de informação literária que vinha sendo reprimida pela mídia de comunicação há bem uns 30 anos. Tanto é que antes dessa geração, nós tivemos trabalhos musicais excelentes, como por exemplo Os Mutantes, O Terço, A Bolha, Joelho de Porco, Som Nosso de Cada Dia e outros que criaram muitas coisas interessantes, mas que não chegaram à grande mídia.
80`s: Conte pra gente a história da tua banda, Lobão e os ronaldos” ?
Guto: Aceitei o convite do Zé Luis para tocar na banda do Lobão, que era constituída por Claudio Infante na bateria, Arthur Maia no baixo, Zé Luis no saxofone e Alice Vermeullen (Alice Pink Pank) nos teclados e backing vocais. Depois o Arthur e o Claudinho saíram, pois estavam também acompanhando outros artistas. Nesse meio tempo, eu estava gravando um repertório de músicas minhas no estúdio do Baster Barros, que depois veio a ser o baterista dos Ronaldos. Um dia, o Lobão e a Alice foram lá para a gente levar um som e trouxeram a reboque o Odeid Pomerancblum. Aí papo vai, papo vem, a gente parou para ouvir o repertório que eu estava gravando. Dentro desse repertório, estava a música “Ronaldo foi pra guerra”. O Lobão e a Alice se amarraram e sugeriram da gente incluir no repertório do show ao vivo essa e mais “Dr. Raymundo”, “Inteligenzia”, “To a toa Tokio” e “Bambina” que também era do Baster. Nas nossas idas e vindas, naquela zueira, começamos com a mania de chamar um ao outro de “Ronaldo”. Então um dia lá deu um estalo e o Lobão falou: “Mais é claro cara! Nós somos Os Ronaldos!” E assim ficou para nós ali no nosso meio. Depois o Lobão e a Alice foram até a gravadora RCA e sugeriram que lançássemos esse trabalho já com o nome “Os Ronaldos”, já que esta mesma RCA tinha pouco se lixado para o trabalho anterior do Lobão. A gravadora não quis abrir mão do nome “Lobão” porque achava que ia ser um desperdício. Então a banda foi para o estúdio da RCA gravar o LP “Ronaldo foi pra guerra”, que inclui “Me chama” e “Corações psicodélicos” já com o nome “Lobão e Os Ronaldos”.
80`s: Quais são suas melhores lembranças dos anos 80?
Bem, as minhas melhores lembranças são relacionadas com a maneira descompromissada com que as bandas se formavam. Ninguém estava necessariamente preocupado com qualquer demanda ou exigência que qualquer mídia que fosse pudesse estar fazendo. O despojamento era uma característica marcante dos músicos em geral. Se bem que isso também acontecia nos anos 70. Os músicos se juntavam e faziam as famosas “Jam sessions” e depois, se rolasse uma simbiose, o trabalho ia se desdobrando. Então, como esse conceito estava se desenrolando através da nossa cultura de uma maneira geral, na verdade esse movimento era latente no chamado underground e então ele veio a tona em seguida.
80`s: Quais são seus projetos atuais?
Guto: Atualmente estou mixando um trabalho meu de violão solo, com repertório que vai do erudito ao popular, com músicas de autoria minha e também de outros compositores. Além disso, estou juntando um repertório para banda de Rock’n Roll que espero poder divulgar em breve.
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Muito bom,Áureo.Fiz Uma Pequena Viagem Aos Anos 80 Agora.Concordo com Você no Tocante à Produção de Alguns Discos.O do Camisa de Vênus,acho que o Primeiro,é Estridente e Totalmente sem Peso,quero Dizer,sem Aquele Som Encorpado.O Barão,com Declare Guerra,não sei se Proposital,pois o Ezequiel Neves é Fã dos Stones,ficou um Som como Você diz,'De Brinquedo.'Acho que A Produção mais Profissional Começou a Partir de Álagados',do Paralamas,passando por Cabeça Dinossauro(Acho que Liminha Produziu os Dois,tenho que Confirmar.)e Daí Por Diante.Legal ler essa entrevista com o Guto Barros.'Me Chama' Realmente é um Clássico.E Corações Psicodélicos Dancei em Muitos 'Mingaus.'Valeu.O Blog tá Cada dia Melhor.É Acessar e Viajar.Um Abraço!
ResponderExcluir'Nós Vamos Invadir sua Praia' Também é uma Grande Produção.Foi Liminha quem Produziu Também?Nos Anos 80 só dava Ele!
ResponderExcluirSim Flávio, na Mosca!! Esse discos que vc citou foram produzidos pelo Liminha e são grandes discos. Tem um disco produzido pelo Liminha nos EUA que tem um sonzão, o 2º dos Heróis da resistência, Religio. Esse quase ngm conhece...
ResponderExcluirO Gutásso ,esqueceu que o apelido do meu irmão é dromedário , Joào Luizinho , poois meu pai é Joào Luiz. não bobão? Guto, mostra pra eles quem é o gênio. Você !!!
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